Virchow, um dos mais destacados cientistas vinculados a essa teoria, entendia que a “ciência médica é intrínseca e essencialmente uma ciência social”, que as condições econômicas e sociais exercem um efeito importante sobre a saúde e a doença e que tais relações devem ser submetidas à pesquisa científica. Entendia também que o próprio termo “saúde pública” expressa seu caráter político e que sua prática implica necessariamente a intervenção na vida política e social para identificar e eliminar os fatores que prejudicam a saúde da população.
A fragilidade corporal e individual da vida humana, a doença e a morte constituem o próprio objeto da medicina. Ao final do último século, a epidemiologia social é resgatada do limbo, enfocando mais uma vez a fragilidade da vida como a um tempo corporal e social, buscando maior aproximação com as ciências sociais. Estas têm uma contribuição fundamental para o campo da saúde pública, analisando sistemas de cuidados médicos e o acesso aos mesmos, o impacto social da fragilidade corporal ou ainda o sentido atribuído pelos indivíduos à experiência da doença.
Para Madel Terezinha Luz, doutora em ciências políticas, o desafio da fragilidade da vida está nas preocupações das ciências humanas não apenas por conta da violência, do terrorismo, das epidemias, do surgimento de novas doenças, mas também pela perda de valores e sentidos na sociedade atual — criando no futuro, quem sabe, até um novo indicador de saúde. “O que chama atenção atualmente das ciências humanas é a fragilidade da vida humana, principalmente no espaço urbano”, diz.
O espaço rural também é atingido, mas minimamente, acredita ela, porque mal se pode dizer que exista uma sociedade rural — há apenas resquícios. No grande processo de urbanização, os valores ligados à solidariedade, a grupos solidários, à família desaparecem completamente. Nessa sociedade urbana, os valores são a competição, a busca de sucesso, o individualismo, o consumismo, de onde brotam a hostilidade, a violência. “E isso põe em questão a vida”, afirma. “Produz isolamento, ansiedade, estresse e gera doenças novas, ditas contemporâneas, como pânico, bulimia, anorexia, a loucura pela forma física — afastar-se dessas normas é colocar-se na anormalidade”.
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