A saúde indígena é
um tema central na luta dos povos indígenas pela conquista de seus direitos,
dada a precária situação, em termos de acessos aos serviços essenciais, a que eles estão
submetidos no Brasil. Para melhor compreensão acerca da realidade brasileira, é
necessário resgatar alguns princípios sobre saúde e o entendimento do processo de saúde-doença, levando-se em conta as especificidades culturais de cada uma
das etnias presentes no País.
Segundo os princípios que
constam no relatório da III Conferência Nacional de Saúde Indígena, realizada
em 2001:
“… cada povo indígena tem suas
próprias concepções, valores e formas próprias de vivenciar a saúde e a doença.
As ações de prevenções, promoções, proteção e recuperação da saúde devem
considerar esses aspectos, ressaltando os contextos e o impacto da relação de
contato interétnico vivida por cada povo…”.
Foi dessa compreensão, que
emergiu a necessidade de entender que o processo saúde-doença é parte
integrante de contextos sócio-culturais e, portanto, deve ser abordado, no
âmbito das políticas de saúde, de forma a contemplar a participação social, a
intersetorialidade, a integralidade das ações e, sobretudo, a diversidade
cultural, em se tratando das populações indígenas.
A política
de saúde para os povos indígenas é uma das questões mais delicadas e
problemáticas da política indigenista oficial. Sensíveis às enfermidades
trazidas por não-índios e, muitas vezes, habitando regiões remotas e de difícil
acesso, as populações indígenas são vítimas de doenças como malária,
tuberculose, infecções respiratórias, hepatite, doenças sexualmente transmissíveis,
entre outras.
Desde a
criação da Fundação Nacional do Índio (Funai), em 1967, diferentes instituições
e órgãos governamentais se responsabilizaram pelo atendimento aos índios. As
diretrizes foram alteradas diversas vezes, mas, com exceção de casos pontuais,
em nenhum momento a situação sanitária nas aldeias foi realmente satisfatória.
Em 1999, uma
política de descentralização do atendimento mediante a assinatura de convênios
com prefeituras e instituições da sociedade civil reduziu a ação direta do
Estado e implementou 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs),
gerando alguns resultados positivos.
Os DSEIs
são, atualmente, de responsabilidade da Funasa, e foram delimitados a partir de
critérios epidemiológicos, geográficos e etnográficos. Cada DSEI possui um
conjunto de equipamentos que permite a realização do atendimento de casos
simples, ficando as ocorrências de alta complexidade a cargo de hospitais
regionais, implicando em um aparato para remoção dos doentes. O controle social
se dá por meio dos Conselhos Indígenas de Saúde (Condisi), que garantem, ao
menos no plano da legislação, a participação dos índios na gestão dos DSEIs.
Na III
Conferência Nacional de Saúde Indígena constatou-se precariedade das condições
de saúde, com taxas de morbimortalidade muito superiores às da população
brasileira em geral. Destacam-se nesse quadro que o perfil epidemiológico dos
povos indígenas é marcado por altas taxas de incidência e letalidade por
doenças respiratórias, diarréicas, doenças imunopreveníveis, malária e tuberculose,
cardiopatia, doenças hemofílicas, doenças renais, câncer e outros.

Estes e
outros se apresentam como grandes desafios neste momento histórico que vive as
comunidades indígenas no Amazonas, na caminhada já iniciada há tempo pela
garantia dos direitos e pela melhoria da vida das famílias.
O Instituto e Centro de Referência e Apoio à
Saúde Indígena, através de vários atendimentos médicos realizados nas
comunidades indígenas e na casa de saúde do índio (CASAÍ), têm contribuindo a
este processo, a partir das necessidades que foram surgindo nas comunidades e
no contexto da caminhada da organização indígena.

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